De maneiras diferentes, no consultório ou fora dele, ouvimos os pais, bastante bravos, se referindo à mesada dos filhos. ‘Isso você só compra se for com a sua mesada! Eu não vou comprar!’. ‘ Quer muito esse brinquedo? Então guarde a sua mesada’. ‘Para ganhar o dinheiro desta semana, vai ter que fazer as lições todos os dias.’ Os filhos, por sua vez: ‘Pai, você não deu minha mesada ainda!’ ‘Mãe, completa o que falta para eu comprar o jogo, por favor…?
Quando os pais instituem a mesada para corrigir os filhos, procurando dar noção de realidade, fazer respeitar os limites, aprender a planejar, conhecer o valor do dinheiro, e até usar como moeda de troca no caso de castigo, ela se transforma em fonte de tensões.
O que observamos é que ela, em si, não é solução e nem ‘ensina’. Cria-se sim, um novo palco, onde as dificuldades já existentes tendem a se apresentar novamente. Famílas, por exemplo, que ultrapassam os limites, perdem o planejamento e a organização orçamentária, continuarão a repetir essas características na mesada! E outras questões podem surgir: uma criança de 6 anos que não deve comer balas, poderá fazê-lo se comprar com o ‘seu’ dinheiro?
A mesada faz sentido quando entra em cena para dar sustentação a alguém que já é capaz de exercer certa autonomia. Pode ser interessante para um adolescente que tem condições de escolher o que comer, aonde ir, o que comprar. Neste caso, receber o dinheiro o situa nas condições familiares.
Quando a mesada não está apoiada nesse amadurecimento, converte-se numa brincadeira. Levá-la a sério, transforma o jogo de faz de conta em algo que pode mais confundir do que ajudar!
Marcia Arantes e Helena Grinover
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