‘Ela é mais alta que a irmã’ , diz a mãe para uma amiga. A filhinha, que escutava a conversa, acrescenta:’ É, eu sou a mais alta! A Aninha é baixinha!’
Comparações são comuns no seio das famílias. Um traço lembra o tio, um jeito é do avô, esse é mais esperto, é mais agitado que a irmã, gosta de ler como a mãe, e por aí a fora…
São maneiras usadas para inserir alguém na família, reconhecer a pertinência ao grupo, a origem. Colaboram na criação das identidades por meio do que é ‘igual’, e do que é ‘diferente’.
No entanto, é importante que os adultos também deixem espaço para que a criança seja apenas parecida ou diferente dela mesma. Insistir e fixar comparações pode dificultar a mobilidade necessária para experimentar, mudar, ser espontânea e aprisiona naquilo que ela sempre ouve dizerem a seu respeito. É interessante que os educadores possam intervir nestas situações, interrompendo as repetições definitórias.
Quando a menina do nosso exemplo afirma ‘ser a mais alta’ atribui a si uma vantagem absoluta, como se fosse a melhor, e imediatamente transforma a irmã em ‘baixinha’, no diminutivo. Ser alta ou baixa não define ninguém, não estabelece sua maneira de se colocar no mundo ou sua capacidade de realização pessoal.
Marcia Arantes e Helena Grinover