A professora de uma turma de crianças de três a quatro anos observa que seus alunos insistem em brincar de se deitar um sobre outro, balançar os corpos, e rindo nervosamente, dizer que estão namorando. Inquieta, sem ter certeza de como proceder, ela procura saber de onde veio essa brincadeira e a resposta dos pequenos é imediata: da novela!
Eles poderiam estar fazendo alguma atividade parecida, se jogando, rolando no chão, usando o corpo num prazer típico da infância e a professora, provavelmente, não estaria surpresa. O que chama sua atenção é a ansiedade dos alunos, a insistência. Crianças brincam de namorar, mas geralmente trata-se de um companheirismo, no qual o relacionamento não inclui os contatos corporais que ocorrem após a adolescência.
Cenas da televisão, ao mostrar um casal a sós, na intimidade, colocam o espectador na posição de quem espia, ou seja, vê sem ser visto, sem participação. É bem diferente da situação em que as crianças presenciam os namoros no dia a dia, no espaço social, onde estão presentes ativamente, e os que namoram não agem como se estivessem entre quatro paredes.
É também muito diferente de uma conversa sobre namoro, na qual a troca de palavras permite à criança ampliar o pensamento e fazer ligações entre o que é novidade e o que ela já conhece. Assim ela desenvolve a capacidade de conectar suas emoções e idéias numa rede própria. As imagens que aparecem isoladas e bloqueiam essa capacidade, chocam.
Nas telas, muito mais do que na vida, os pequenos são expostos a cenas que não correspondem a sua maturidade. Trata-se de uma exposição que os precipita num mundo enigmático, os arremessa com violência para fora da realidade infantil e perturba o crescimento.
É função de pais e educadores, apesar das dificuldades atuais, proteger os menores do que é veiculado nos meios de comunicação de massa.
Helena Grinover
Marcia Arantes
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